segunda-feira, 21 de julho de 2008

"Pensando na Vida"

Desde o surgimento da Bioquímica como ciência, os pesquisadores procuram responder a uma pergunta que afligia os filósofos já na Antiguidade: “O que é a vida?”. Mesmo hoje, com toda a tecnologia e conhecimento disponíveis, essa questão ainda continua sem resposta.

Tentando explicar a vida através de reações químicas, acabamos entrando num reducionismo enorme (que paradoxo hein!) e continuamos sem resposta a nossa pergunta. Apenas conhecendo a estrutura dos componentes celulares e suas respectivas funções não é o suficiente para entendermos realmente o que é a vida. Onde é a “linha” que separa o vivo do não vivo? Os cientistas do começo do século passado pensavam que entendendo como a célula funcionava conseguiriam achar essa linha; deste ponto em diante o organismo é vivo, daqui pra trás não passam de moléculas...

Porem, como já sabemos isso não ocorreu, e a pergunta sempre voltava. “O que é a vida?” Na metade do século, os cientistas perceberam que apenas conhecendo a estrutura e as funções da célula, não conseguiriam responder essa questão. Foi nesta época que uma nova idéia começou a surgir no meio cientifico: a idéia do padrão de organização, que não se preocupava com a estrutura (forma) e sim com a organização dos sistemas vivos. Uma ruptura com os padrões científicos, que tinha sido estabelecido por Galileu, no inicio da física clássica, que consiste em isolar um objeto e analisá-lo, a fim de tentar entender o todo, através das partes.

Na época de Galileu, essa idéia foi um avanço, que se consolidou com Newton e Descartes, a ciência parecia que tinha encontrado uma forma certa de estudar o Universo. Porém quando este método foi aplicado a organismos vivos, perceberam que a soma das partes, não era igual ao todo (=Gest Alt!!). Os experimentos não condiziam com a realidade, foram então criando condições “ideais” no sistema (não existe atrito, não há dissipação de energia, as formas são perfeitas, etc.)... Mas, como sabemos, os sistemas biológicos operam longe do equilíbrio, com uma constante entrada de energia no sistema.

A partir dessas conclusões, foi necessária a criação de outra maneira de se pensar na ciência, e a idéia de Organização veio à tona. Era necessário estudar o todo, e não mais apenas as partes. Penso que se conseguirmos mudar nosso pensamento, e começarmos a analisar a vida não apenas como formas, mas também como uma organização ou padrão, como alguns cientistas/pensadores já o fazem, daremos um passo muito grande na direção de responder essa pergunta, que desde o inicio da Filosofia/Ciência permeia a mente dos seres humanos.

Interessou - se pelo assunto? Leia mais nos seguintes livros:

“A Teia da Vida” Frijot Capra

“A árvore do conhecimento” Maturana e Varela



Texto cru, ainda sofrerá mudanças, mas a idéia básica é essa.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Mutações quase silenciosas*

Esse texto, eu tinha lido na Scientific American Brasil, e tinha feito esse comentario, que ia(vou) publicar no jornal folhaB(beta), mas enquanto a Sil fica enrolando, vou postar ele aqui primeiro.

Mutações quase silenciosas*

Como acontece em todas as áreas do conhecimento, algumas idéias sobre determinados assuntos são consideradas verdades absolutas, muitas vezes por parecerem mesmo, ou por estarem consolidadas a muito tempo como tal. Na Bioquímica, por se tratar de uma ciência em formação, isso acontece com uma frequencia ainda maior, e o caso mais recente é o que diz respeito as mutações silenciosas.
Imaginava-se até então que essas mutações não deveriam gerar alteração nenhuma nas proteínas que codificam, por exemplo: acreditava-se que um códon UGU que codifica para Cisteína, e UGC, que também codifica para Cisteína, não importando qual estivesse presente no código genético, a proteína seria a mesma, bastaria para isso eles estarem na mesma posição, ou seja tanto faz a presença de UGU ou UGC, que naquela exata posição, apareceria o aminoácido Cisteína, essa é a chamada mutação silênciosa, muda-se apenas uma nucleotídeo, mas o aminoácido codificado é o mesmo.
Porém pesquisadores do Instituto Nacional do Cancer dos EUA perceberam que alguma coisa errada estava acontecendo, eles identificaram uma proteína humana que assume duas formas distintas de acordo com uma diferença sutil em seu gene, que não deveria provocar alteração alguma, Eles estudam uma proteína de menbrana que atua como um sifão, retirando a quimioterapia das células cancerosas.
Após muitos estudos, constataram que a mudança de um único nucleotídeo no gene que codifica tal proteína causava uma redução na sua funcionalidade. Eles perceberam que o organismo usa certos códons mais frequentementes que os sinônimos alternativos(utilizam mais UGU do que UGC por exemplo) e essa prática reflete na quantidade de RNA- transportadores (tRNA) presente nas células.Cada tRNA reconhece um códon especifico na transcrição de um gene, e define um aminoácido correspondente numa cadeia de proteínas.Quando um códon raro aparece, poucos tRNAs correspondentes estão disponíveis na célula, e o funcionamento do ribossomo pode se tornar mais lento, ocasionando uma dobra inadequada da proteína, o que a levou a ter um funcionamento diferente.
A descoberta de que códons sinônimos poderiam romper a dobra de proteínas em seres humanos demonstra por que pensar na linguagem genética como se fosse “digital” é simplista demais, afirma um dos pesquisadores. A ideia de que um códon de RNA como UUU “significa” fenilalanina, assim como 010101 significa a letra A no codigo de troca de informações, é algo que os pesquisadores do seculo XXI devem desaprender, completa.
*Adaptado da revista Scientific American Brasil n˚61 de junho de 2007

sábado, 15 de março de 2008

Dieta do Ponto Z

Estava lendo sobre a Dieta do Ponto Z, livro escrito pelo Bioquímico Dr. Barry Sears , que propôs uma mudança na dieta que estamos acostumados a ver como "correta", que prevê que os carboidratos devem satisfazer 60% das calorias ingeridas, enquanto que as proteínas devem estar na proporção de 10 a 15%, e as gorduras não devem ultrapassar 30%, ao invés disso A Dieta do Ponto Z preconiza a combinação de gordura (30% do total de calorias), proteína (30%), e carboidrato (40%).
Sabe-se que para que a necessidade fisiológica natural seja cumprida, os carboidratos devem satisfazer mais da metade das calorias ingeridas, principalmente para indivíduos esportistas. Essa necessidade dá-se pela exigência de glicose de todos os tecidos do corpo, e por ser o carboidrato o substrato energético mais facilmente utilizado pelos órgãos e músculos. Em contra partida, preconizando o aumento das proteínas, manutenção das gorduras e diminuição dos carboidratos em relação à dieta tradicional, a Dieta do Ponto Z proporcionaria um estado metabólico no qual o corpo funciona com o máximo de eficiência, vitalidade e melhor desempenho físico e mental. Além disso, a dieta promete um impacto positivo em uma série de estados patológicos.
Em termos fisiológicos, o princípio da dieta baseia-se no diferente comportamento hormonal proporcionado pela ingestão modificada em relação à dieta tradicional. Neste sentido, a dieta equilibraria os eicosanóides, hormônios responsáveis por controlar a liberação de insulina, glucagon e outros hormônios, além das funções fisiológicas vitais do corpo, como a queima da gordura corporal armazenada. Em termos práticos, este controle estaria relacionado a dois fatores: o tamanho da refeição ingerida (pois o excesso de calorias estimula a secreção de insulina) e a proporção entre proteína e carboidrato em cada refeição.
Os ácidos graxos essenciais, provenientes da gordura alimentar, são os precursores dos eicosanóides, que por sua vez controlam a insulina, e por isso a ingestão de gordura de boa qualidade seria essencial. O equilíbrio de proteína e carboidrato, por sua vez, determina se os eicosanóides estariam sendo fabricados pelo corpo de forma equilibrada.
Segundo a proposta da dieta, o excesso de carboidratos na alimentação favorece o acúmulo de gordura corporal, pois promove um grande estímulo à insulina. Os maiores níveis de insulina não só induzem o armazenamento de carboidratos na forma de gordura como também inibem a liberação da gordura armazenada. Isso impossibilita o uso de sua gordura corporal armazenada para a produção de energia. A dieta sugere que o consumo de carboidratos seja predominantemente de baixo índice glicêmico, pois estes aumentam os níveis de açúcar no sangue de forma lenta produzindo uma reação insulínica moderada e mantendo um equilíbrio favorável de eicosanóides. Já os carboidratos com alto índice glicêmico como doces, pães e cereais refinados, bem como alguns tubérculos, devem ser consumidos com moderação e em quantidades muito menores por exercerem o efeito contrário.
A Dieta do Ponto Z prevê que as gorduras sejam vitais à produção de eicosanóides e essenciais para reduzir o excesso de gordura corporal. Para o autor, a gordura considerada prejudicial é aquela proveniente do ácido araquidônico, pois proporcionam o desequilíbrio entre os eicosanóides. São elas: gemas de ovo, miúdos, carne vermelha gorda e outras gorduras de fonte animal.
As gorduras saturadas também são restritas na Dieta, pois tendem a aumentar os níveis de insulina ao criar um estado conhecido como resistência à insulina. Já os ácidos graxos insaturados não podem ser convertidos em eicosanóides e por isso não apresentam nenhum efeito sobre a insulina. Portanto, as gorduras monoinsaturadas, tais como como: azeite, óleo de canola, azeitona, nozes e abacate, devem ser a principal fonte de gordura da dieta da Zona para evitar a alteração no equilíbrio hormonal.
Embora a proteína estimule basicamente o glucagon, que atua na produção de energia e tem atuação oposta à insulina, o seu consumo excessivo em uma refeição aumentará os níveis de insulina, o que estimulará o armazenamento de energia, diminuindo a queima de gordura. Portanto, a ingestão ideal de proteínas é um dos principais aspectos da Dieta da Zona.
As maiores contestações da Dieta do Ponto Z dizem respeito à sua prática por atletas e esportistas. Isto porque as maiores relevâncias científicas na nutrição esportiva atual referem-se ao efeito potencial de uma dieta rica em carboidratos na performance esportiva, já que a integridade das reservas musculares de glicogênio predizem diretamente o desempenho atlético. Segundo o autor que propôs a Dieta do Ponto Z, os benefícios gerados por esta dieta produzem ganhos inéditos no desempenho. Os ácidos graxos são liberados do tecido adiposo mais rapidamente aumentando a resistência muscular devido a conservação do glicogênio muscular, a gordura armazenada é melhor utilizada, a transferência de oxigênio é aumentada e a fadiga muscular, minimizada.
Depois de toda essa explicação, uma pergunta se faz necessária, por que continuamos com essa dieta de 60% de carboidratos, que já está provado, ocasiona vários problemas de saúde? Sei também, que em um país, cuja grande parcela da população não tem o que comer, discutir isso parece fora da realidade, mas pode ter um retorno enorme, tendo em vista a quantia em dinheiro que o governo federal economizaria com o Sistema Nacional de Saúde em tratamentos de doenças provocadas por má nutrição.